ENTREVISTA 18 O que diria aos que continuam a apontar o dedo ao plás- tico como causador de poluição? Possuidores de excelentes propriedades, os plásticos são materiais extremamente versáteis, que vieram revolucionar a nossa sociedade. Diria que, se hoje temos qualidade de vida e saúde, muito devemos a este material, e que, quando utilizado nas suas mais diversas áreas de aplicação (embalagem, transportes, saúde, eletrónica, construção, etc.), o plástico contribui de forma decisiva para a minimização de impactes e custos ambientais, algo que muitas vezes não é do conhecimento da população. No entanto, a tónica muitas vezes é colocada na polui- ção causada pelos plásticos, um problema que existe de facto e a indústria é a primeira a reconhecê-lo e tem estado empenhada em fazer parte da solução. Mas, a este respeito, importa reforçar a ideia de que o problema não está no material mas sim na vertente comportamental. Resíduos abandonados em terra ou no oceano de forma desregrada, sejam eles de plástico, papel, vidro, metal ou qualquer outro material, geram este problema de poluição. A indústria tem vindo a fazer a sua parte, melhorando o ecodesign dos seus produtos conferindo-lhes uma maior reciclabilidade. No entanto, ao consumidor é-lhe reservado um papel determinante no caminho para a diminuição deste problema de poluição, quer pela via de um consumo cada vez mais racional e sustentável, quer pela adoção de um comportamento mais cívico e mais responsável no momento de descartar os seus resíduos, devendo para o efeito separá-los e depositá-los seletivamente. É aqui que reside maioritariamente o problema, o qual em determinados países é agravado com a ausência de infraestruturas de recolha e tratamento de resíduos, felizmente não é a nossa realidade. Como vê a reação da indústria de plásticos portuguesa a esta pandemia? Considero que a indústria de plásticos reagiu, global- mente, de forma positiva, procurando mais uma vez fazer parte da solução de um problema, desta feita de natureza de saúde pública, dando um contributo decisivo para a prevenção e controlo da propagação do contágio do novo coronavírus. Uma das qualidades que caracteriza a indústria de plásticos é a sua capaci- dade de resiliência. É esta mesma capacidade que faz com que se adapte a novas realidades e a mudanças de contexto inesperadas, como o presente caso da pandemia de Covid-19. Na verdade, muitas empre- sas, fruto da quebra de encomendas e paragem ou diminuição da atividade dos seus clientes, procuraram ajustar os seus processos para o desenvolvimento de novos produtos, que se materializaram na produção e disponibilização de diversos equipamentos de pro- teção individual em plástico, como são exemplo as viseiras, batas, manguitos, calçado, etc., que se têm revelado imprescindíveis para muitos profissionais, em particular para os profissionais de saúde que têm estado na linha da frente no combate a esta pandemia. Paralelamente tivemos um conjunto de empresas que fabricam e/ou comercializam produtos plásticos essen- ciais a vários setores de atividade, como são exemplo as áreas alimentar, farmacêutica e de higiene e limpeza (doméstica, industrial e hospitalar), e que procuraram manter o contínuo fornecimento das referidas cadeias de abastecimento e por conseguinte da satisfação de necessidades sociais impreteríveis, como são a alimen- tação e saúde dos cidadãos. No entanto, também é indesmentível que várias empresas transformadoras do setor dos plásticos foram fortemente afetadas, nomeadamente aquelas que fabricavam produtos para as áreas da construção civil e ramo automóvel, cuja contração económica foi mais do que evidente. Panorama idêntico fez-se sentir ao nível da atividade de reciclagem de plásti- cos, onde a procura de materiais reciclados desceu drasticamente. Que consequências pode vir a ter esta crise para o setor? Poderá estar em causa a esperada transição para a eco- nomia circular? A crise global causada pela Covid-19 trouxe impactos em cascata para todos os setores. Embora uma parte do setor dos plásticos tenha sentido efeitos positivos, também não é menos verdade que outra parte do setor se deparou com grandes dificuldades, conforme