Roland Feichtl, Presidente da Cecimo, a Associação Europeia das Indústrias de Máquinas-Ferramentas, declarou durante a conferência do dia 17 de setembro que “o mercado de máquinas-ferramentas parece estar a abrandar, em parte devido às crescentes dificuldades na cena política internacional”. As enco- mendas totais para o segundo trimestre de 2019 diminuíram 19% em relação ao primeiro trimestre e cerca de 24% em relação aos valores do segundo trimestre de 2018. Por outro lado, a produção industrial na Europa parece estar a registar uma tendência decres- cente, enquanto a confiança dos fabricantes europeus no mercado também está a diminuir. De facto, existem fatores económicos por detrás desta aparente mudança de ciclo, mas as questões geopolíticas também a influen- ciam. Uma delas é bem conhecida, tendo estado no centro do debate político europeu desde junho de 2016: o Brexit. Desde 2018 que os fabricantes britânicos de máquinas-ferramentas são o sétimo maior produtor da Cecimo, com uma contribuição de mais de 500 milhões de euros em bens (uma quota de 2,3%), bem como o sétimo maior consumidor, com 4,2% do consumo total entre os associados (cerca de 730 milhões de euros). Além disso, são o nono maior exportador da Cecimo, com mais de 560 milhões de euros das suas vendas totais para o exterior. Estes números mostram que o Reino Unido é uma pedra angular do projeto comum. Se introduzirmos burocracia e novas taxas entre as indústrias de máquinas-ferramentas europeias e britânicas, o impacto no sector será negativo. Seja qual for o resultado, o Reino Unido continuará a ser um forte membro estratégico da Cecimo e apoiará os esforços da associação para assegurar que o comércio continue da forma mais fluída possível. Os recentes esforços da União Europeia para assegurar a livre circulação de bens industriais entre o mercado único e o Reino Unido, como o Regulamento relativo à autorização geral de exportação de certos bens de dupla utilização da União para o Reino Unido, apontam na direção certa, mas, se o Reino Unido finalmente deixar a União Europeia, uma solução mais está- vel seria um acordo de saída de grande alcance. A economia mundial enfrenta outro desafio: a guerra comercial entre os EUA e a China Durante a conferência, a Cecimo apontou a atual guerra comercial entre os EUA e a China como outro importante fator de destabiliza- ção económica mundial. As políticas tarifárias agressivas impostas de parte a parte prejudicaram principalmente os produtos chine- ses e americanos, mas também afetam as empresas europeias que fazem parte da Cecimo. Em 2018, estas empresas tiveram exce- dentes comerciais significativos com a China (saldo positivo de 2,7 mil milhões de euros) e com os Estados Unidos (1,7 mil milhões de euros). Considerando que estes são dois dos maiores mercados mundiais, esta guerra comercial poderá vir a diminuir a vantagem competitiva das empresas europeias. Outro cenário relevante é o conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Em 2014, a Rússia foi sancionada pelos Estados Unidos e pela UE pela sua ingerência política na vizinha Ucrânia. No entanto, estas medidas não resolveram o conflito e prejudicaram as empresas europeias, especialmente as que operam nos mercados industriais russos. A Rússia é atualmente o quinto maior mercado de exporta- ção da Cecimo, com uma quota de 4,6% do total das exportações. Em 2008, as exportações da Cecimo para a Rússia ascenderam a 10,3%, mas os instrumentos utilizados para sancionar o país reduzi- ram parcialmente a sua quota para o nível atual. O atual conflito no Irão também coloca dificuldades a vários fabri- cantes de máquinas-ferramentas. As exportações para o Irão têm vindo a cair desde 2010, ano em que atingiram o seu pico (157,3 milhões de euros), para apenas 4,2 milhões de euros em 2018. A restrição do comércio de bens de dupla utilização tem limitado o MÁQUINAS-FERRAMENTAS 29