ENTREVISTA Pode descrever-nos a indústria alemã de máquinas-ferramentas? A VDW tem cerca de 250 associados, na sua maioria fabricantes de centros de maquinação, de máquinas-ferramentas e de componen- tes para máquinas-ferramentas, o que representa cerca de 90% da totalidade do setor, na Alemanha. No ano passado, atingimos um valor recorde de faturação de cerca de 17,1 biliões de euros, com um ratio de exportação de cerca de 17%, e um número total de 75 mil empregados. A adesão da indústria à VDW é bastante elevada... Sim, a VDW é uma associação muito antiga, com 127 anos de atividade. Temos uma longa tradição de trabalho com o setor. Além disso, é uma associação de filiação livre, ao contrário do que acontece com outras na Alemanha, e, de facto, as empresas optam por permanecer associadas porque dão valor ao suporte que lhes damos e aos serviços que prestamos. Somos, em muitos aspetos, consultores industriais dos nossos associados. Fazemos análise de mercado, disponibilizamos dados estatísticos, entre outros serviços, e a indústria valoriza bastante este tipo de informação. 2019 não vai ser um bom ano para os fabricantes de máquinas-fer- ramentas. Como vê o setor na Alemanha? Pode comparar a situação dos fabricantes alemães com a de outros países europeus? É sempre difícil comparar a Alemanha com outros países europeus porque nem todos os fabricantes europeus têm o mesmo leque de equipamentos. A Alemanha é, de longe, o maior fabricante de máquinas-ferramentas na Europa, com mais de 45% da produ- ção. Temos uma presença forte em todos os mercados, o que não acontece com a maioria dos outros fabricantes europeus. E sim, é verdade que desde o final de 2018 assistimos a um abrandamento nas encomendas, mas isso acontece depois de termos tido o melhor ano de sempre. Portanto, neste momento, não antevemos uma crise. Inclusive, em 2019 esperamos atingir o mesmo nível de pro- dução, já que a indústria ainda tem muitas encomendas que vêm de 2018. A questão é: como será 2020? Temos de esperar para ver que encomendas entraram no segundo semestre deste ano. E isso vai depender de vários fatores, principalmente políticos. As guerras comerciais a que assistimos hoje causam muita incerteza e a indús- tria quer esperar para ver o que acontece. E vai depender também da definição de um rumo por parte da indús- tria automóvel, não concorda? Sim, os desenvolvimentos na indústria automóvel não são claros. Os construtores estão a tentar encontrar soluções energéticas mais eficientes, mas ainda não sabemos que direção vão seguir e com que rapidez o vão fazer. Há que ter em conta muitos aspetos como as infraestruturas de suporte, nomeadamente nas viagens de longa distância. Não podemos pensar apenas nas distâncias a nível europeu. Em grandes mercados, como o asiático, as distâncias são muito maiores e isso faz com que ainda precisem de veículos com motores clássicos ou híbridos. Portanto, esta é ainda uma questão em aberto. A Alemanha tem, ou teve, alguns fabricantes nas primeiras posições do ranking mundial de máquinas-ferramentas. Ainda é assim? No que diz respeito ao volume de produção, a China ocupa o pri- meiro lugar. A Alemanha tem vindo a disputar o segundo lugar com o Japão e, em quarto lugar, está a Itália. No entanto, temos de dife- renciar volume de nível tecnológico. E, neste aspeto, competimos pela liderança com o Japão e a Suíça, não com a China, que está num nível tecnológico mais baixo. Qual é o principal setor-cliente da indústria alemã de má- quinas-ferramentas? O principal setor-cliente é, sem dúvida, o automóvel, que con- some cerca de 45% da produção alemã de máquinas-ferramentas. O segundo maior, com cerca de 30%, é o da construção geral de máquinas e equipamentos, como as máquinas agrícolas, de impres- são ou de transformação de plásticos, entre outras. Portanto, mais de 70% da produção está destinada a apenas estas duas áreas. Depois temos outros setores, de menor dimensão, como o aeroes- pacial, de dispositivos médicos ou de equipamentos eletrónicos, por exemplo. Em 2019, é esperado um crescimento em algum desses setores? Tanto a indústria aeroespacial como a dos dispositivos médicos têm muitas encomendas, com prazos de entrega bastante alarga- dos, mas estes são setores de muito pequena dimensão, que não têm poder para aumentar o consumo global. Ao mesmo tempo, no primeiro trimestre deste ano, o setor da construção de máquinas 11 >>11