GRANDE ENTREVISTA | JORNADAS APFM a primeira hora com esta questão. Aliás, como bem diz, o mote das Jornadas foi esse mesmo: “A new life inside”. Seja num hospital, numa escola ou num escritório, nós queremos que as pessoas sintam um ambiente confortável. E numa instalação industrial, que produzam com qualidade, com zero defeitos, com zero desperdícios, com zero acidentes, e que estejam felizes no posto de trabalho. Nesta matéria, a gestão financeira e ambiental dos escritórios é essencial. Temos Diretivas Europeias, nomeadamente a Diretiva 31 de 2010, uma Diretiva que vem introduzir um conceito novo que é de edifício NZEB (edifícios com necessidades quase nulas de energia) e essa Diretiva foi transposta para o Decreto 118, de 2013 A partir de 2020, quer edifícios novos quer reabilitados, públicos ou privados, devem ser edifícios com um consumo energético tendencialmente nulo, considerando um ciclo anual. Mas foi uma meta muito ambiciosa... Para se conseguir um edifício de consumo quase nulo, é fundamen- tal, em primeiro lugar, que a arquitetura seja tida como um elemento prioritário, com o estudo da orientação solar, do sombreamento das fachadas, da escolha dos materiais a utilizar, que reserve espaço disponível para colocar o solar fotovoltaico, o solar térmico, que avalie a geotermia, etc., se for vantajoso. Ou seja, há um conjunto de opções técnicas que devem ser ponderadas na fase de estudo prévio, de anteprojeto e de projeto. Pese embora esforços desen- volvidos, com o objetivo da melhoria da eficiência energética dos edifícios, em Portugal não conheço nenhum edifício que seja um nZEB (net zero energy building), isto é, que seja um edifício com um balanço energético nulo num ciclo anual. Isto é ao nível da eficiência energética dos edifícios. E ao nível dos resíduos? A nível dos resíduos, penso que as coisas estão relativamente organi- zadas. A taxa de sucesso de reciclagem e reutilização tem, apesar de tudo, bons índices, há uma consciência ambiental mais desenvolvida, e é fundamental que caminhemos cada vez mais para uma economia circular, com reutilização mais intensiva e incorporação de materiais resultantes de processos de demolição, em novos materiais. Penso que se pode reutilizar muito mais, principalmente reutilizar os mate- riais resultantes de demolições de edifícios na incorporação de novos materiais, em construções geograficamente próximas. Ainda relati- vamente à eficiência energética, gostava de dizer que os consumos energéticos têm que ser registados no portal da Direção Geral de Energia e Geologia, (as empresas têm que registar lá os consumos), e além disso, a ADENE – Agência para a Energia olha para estas coisas com preocupação. Contudo, é preciso que quem constrói – maio- ritariamente o setor privado – tome consciência da necessidade de ter um maior cuidado a nível da execução dos projetos. O projeto de execução tem que ser mais assertivo, mais preocupado com aspetos de eficiência energética e ambientais, para se evitarem medidas de melhoria pós execução. Portugal, não estando no topo da consciên- cia ambiental, tem vindo a revelar, em muitos setores da sociedade, preocupação com estas temáticas. Constato o que referi pelo número e qualidade dos congressos onde tenho participado e pelas teses que me chegam a nível académico. Há, de facto, uma preocupação em apresentar trabalhos em linha com estas preocupações. E volto a dizer, como leit motiv do FM: o foco tem de estar centrado nas pes- soas. O maior ativo de uma empresa são as pessoas. E é importante que os técnicos responsáveis façam formação regular, se atualizem e estudem durante toda a sua vida útil. O BIM tem a vantagem de tornar os projetos mais colaborativos, minimizar incompatibilidades entre projetos das várias especialidades, agilizar toda a obra, sobretudo evitando erros na execução, paragens para tomada de decisão face a omissões de projeto, e facilitando a fase de exploração Onde vamos estar daqui a 10 anos nesta matéria? A nível de projeção a 10, 15 anos, a tecnologia crescente nos edifí- cios vai ser imparável, a gestão vai ter ferramentas cada vez mais sofisticadas, cada vez mais em tempo real. Vai haver uma sofistica- ção tecnológica crescente com base na IoT e o gestor vai ter cada vez mais ferramentas para tomar decisões fundamentadas, em tempo real. Por outro lado, vai haver também a necessidade de os gestores terem uma formação adequada, muito mais especializada. Os escritórios vão ser totalmente diferentes do que conhecemos hoje. Vão ser escritórios “fora da caixa”, até porque a geração que está a chegar ao mercado de trabalho tem uma outra filosofia de trabalho. Desde a iluminação à qualidade do ar, a espaços de lazer, a ideia é que as pessoas se sintam bem. Vamos ter espaços multi- culturais, muito mais apelativos. O escritório tradicional de mesa e cadeira vai acabar. Acho que o teletrabalho também se vai imple- mentar, por várias razões, incluindo as económicas. Que mensagem final gostaria de deixar ao setor e ao mercado? Venham à associação e aos nossos workshops, frequentem os cur- sos de formação. Esta é uma área multidisciplinar e que toca várias vertentes. E todo o FM assenta no bem estar das pessoas, seja num hospital, numa escola ou num escritório. Por fim, gostava de dizer que terá de haver rapidamente uma revisão dos requisitos de pro- jeto face às alterações climáticas. Temos fenómenos extremos cada vez mais frequentes, muito localizados, cuja previsão de localização é extremamente complicada. Este novo cenário obriga a que tenha- mos que projetar e executar para um regime de ventos excecionais e/ou de chuvas torrenciais. A título de exemplo simples, vamos ter que fazer o reforço das fixações de equipamentos nas coberturas para ventos excecionais. Já estamos a fazer exercícios no sentido de considerar ventos com velocidades de 180 a 200 km/h e não o vento regulamentar de 120 km/h. Ou seja, é fulcral atuar na preven- ção, redesenhando os critérios de projeto. Por outro lado, a nível de climatização, a ocorrência de temperaturas extremas em zonas tradicionalmente “temperadas”, obriga a que o projetista reveja os critérios de projecto que adopta, indo além dos mínimos regu- lamentares. O que referi quanto ao critério “velocidade do vento”, aplica-se ao projeto de torres de suporte dos geradores eólicos industriais, e aos apoios de linhas de média e de alta tensão. • 65